sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
Os rockstars foram extintos, mas Marilyn Manson ainda está aqui
Confira a entrevista original, feita pelo site The Fader, aqui.
Em 2014, os jovens artistas perseguem a fama viral, não o superestrelato glamuroso. Sem dúvida Marilyn Manson tem a tristeza.
Lembra quando o Marilyn Manson removeu suas costelas para poder
chupar seu próprio pau? Ou quando ele mordeu e arrancou a cabeça de uma
galinha durante um show? Isso é o que meus amigos diziam uns aos outros
em 1996, quando tínhamos nove anos e o vídeo tenebroso de The Beautiful People estava competindo comMacarena e Alanis Morissette na televisão.
"Se você se portar como um rockstar, você será tratado como um," Manson escreveu em sua autobiografia, The Long Hard Road Out of Hell,
lançada em 1998, explicando como ele foi pago em 500 dólares por seu
primeiro show. Ele vem cumprindo essa filosofia desde então, e por esse
motivo, a lenda em seu personagem frequentemente eclipsava os fatos de
sua vida. Esses rumores de escola que soltei sobre ele não eram
verdadeiros. Manson nunca removeu suas costelas, ele admite em sua
biografia, no entanto, que fez uma cirurgia plástica em seus "enormes lóbulos da orelha".
Havia uma galinha no palco em Dallas em 1995 - foi jogada ao público,
mas não morreu. Entretanto, isso não foi nada se comparado a quando
Manson foi amplamente e erroneamente culpado pelo massacre de Columbine
em 1999. Olhando para trás, o mito de que ele foi o responsável foi um
percursor vívido para o modo como as pessoas agora ficam famosas na
internet, com ou sem suas participações.
Aos 45 anos, Manson é um exibicionista introvertido. Ele me liga de
um lounge de um aeroporto em Los Angeles, a caminho da Europa para
promover seu nono álbum. Ele tem muitos "monólogos interiores",
como ele mesmo diz, e pula de um ao outro sem parar ao longo da
conversa que durou uma hora. Ele me conta que mantém sua casa a 12ºC e
que ele deve dormir pelo menos sete horas por noite para ter certeza que
suas cordas vocais irão produzir "cinco notas diferentes ao mesmo tempo." Ele é convencido e sensitivo, intimando que está carregando um "canivete de ouro"
em seu casaco, e então me deixa saber o quão agradecido ele ficou pelo
Die Antwoord defendê-lo recentemente, quando alguém o acusou de estar
bêbado pela manhã. "Eu não estava bêbado," Manson diz. "E fiquei chateado com isso. E esses caras me defenderam."
Quando ele tosse, parece, como ele diz, "que tenho vodka presa na minha garganta."
Mas não tenho certeza - estamos ambos usando celular e o sinal está
ruim, e a voz grossa do Manson o deixa especialmente difícil de
entender. Talvez realmente tenha cinco tons.
The Pale Emperor, que será lançado em Janeiro pelo selo
Hell, etc. (com ajuda de distribuição pela Loma Vista), é o primeiro
disco do Manson em três anos, um período onde ele pareceu mais
interessado em filme e televisão que música. "Quando você disse que já foram três anos, tive que checar o calendário na minha cabeça por um segundo," Manson diz. "Porque eu não uso relógio e tenho um assistente que me diz o que fazer todos os dias."
O último disco do Manson, Born Villain, foi o primeiro que
ele lançou após deixar a Interscope, e foi auto produzido e cheio de
tangentes, sobre Shakespeare e Grécia Antiga. Para o Pale Emperor,
Manson encontrou um editor em Tyler Bates, um produtor que trabalhou
predominantemente em trilhas sonoras para filmes e vídeo games. "Eu
não sei se a CIA hackeou meu cérebro ou se era para ser assim, mas Tyler
e eu estávamos estranhamente na mesma página, sem nos conhecermos muito
bem," Manson diz. "Eu nunca tive isso antes em uma amizade. Eu
finalmente sinto que tenho um time ao meu redor. Não gosto mais de ser
um guerreiro. Acho que eu precisava parar e aceitar responsabilidades, e
que eu precisava ser o líder. Esse disco vem com essa confiança. Não
acho que seja o definitivo, mas acho que é um novo capítulo."
Em um episódio recente do podcast de Bret Easton Ellis, Manson
disse que deixar álbuns serem aprovados pela gravadora poderia ser "destruidor de almas" e ele me diz que durante os últimos anos, tem sido "muito difícil" de vê-lo no estúdio. Desta vez, ele diz, foi um alívio gravar "sem a pressão".
Manson é notoriamente vampírico, dormindo durante o dia e comendo
ostras no Chateau Marmont durante a noite, mas ele diz que ele e Bates
gravaram a maioria do Pale Emperor durante o dia. "Sou uma pessoa mudada," ele explica. "Isso não significa que mudei para um lobisomen, é só uma abordagem emocional diferente." Ele tinha que estar de pé às 7am, de qualquer forma, ele diz, para gravar o Sons of Anarchy, o famoso seriado em que ele tem um papel recorrente como um supremacista branco.
"Sou muito responsável no fato de que gosto de se pontual," ele diz. "Gosto
de mostrar às pessoas que suas preconcepções sobre mim podem ser
desafiadas pela confusão. Sou educado. Quando conheço alguém, aperto sua
mão." O jeito tradicional do Manson talvez seja um tipo de cobertura de segurança. "Desde a primeira vez que olho alguém nos olhos, sei se vou gostar ou não dessa pessoa," ele diz. "Eu
lembro de cada detalhe de tudo. E às vezes isso é terrível. Há muitas
coisas que você não quer lembrar. Agora, há 25 conversas diferentes
rondando minha cabeça. Às vezes meu cérebro vai em tangentes."
Ouvindo ao Pale Emperor, as músicas me lembram o Interpol e ao bar rock retrô de motoqueiros de Sons of Anarchy. Manson me diz que ele e Bates foram inspirados inicialmente por uma cena do filme Twin Peaks: Fire Walk With Me. Especialmente: "A
vibe geral da cena, quando eles estão no Quarto Rosa e Laura Palmer e
sua amiga estão recebendo sexo oral de alguém e há uma banda tocando ao
fundo, algo como o The Cramps." Manson é um letrista confesso, que
já vestiu seus sentimentos em personagens e metáforas extensas. Nesse
álbum, ele deixa a melodia liderar. "Sou um homem de poucas palavras no disco," ele diz. "O
que eu não tinha encontrado, até agora, é o blues. O blues mudou o modo
como cantei. E a música tem uma melodia e uma linguagem própria."
Ele me fala sobre algo chamado ideasthesia, que é "quando você tem uma situação onde todos os cinco sentidos estão acontecendo ao mesmo tempo."
Então, tipo, você está provando cheiros e ouvindo cores. Ele diz que
isso acontece com ele, o que o deixa bom em fazer arte, mas também "bastante vulnerável à pessoas ou estranhos."
Se isso significa uma agonia para um entertainer, ele diz que é mais
fácil para ele conviver com seu cérebro quando ele está tocando para
milhares de pessoas do que quando "sento em uma sala com pessoas que acabei de conhecer."
Embora a reputação do Manson seja de uma pessoa que choca, seu
jeito também sempre teve um ar docemente nostálgico. A maquiagem branca,
botas brilhosas e peitos falsos ressoam ao Bowie, Kiss e até P.T.
Barnum, o fundador de circo cujo Manson cita como um herói. Em 2014,
suas antigas aspirações de ter uma fama do tamanho de um estádio e
arrebentar o mundo com caos parecem quase saudáveis, e certamente
antigas. Nos dias de hoje, a fama vem e vai mais rápido. Jovens artistas
devem competir com hits virais e agradar de forma rápida (sem mencionar
o desespero por atenção), então uma vida como um rockstar do tamanho do
Kiss parece além do alcance de qualquer um. Ser acessível e imperfeito é
muito mais legal, nos dias de hoje, do que virar um ídolo.
Manson parece saber disso. "Eu apareci no acometimento da internet," ele diz. "A
tecnologia meio que me assustou - pensei que era muito matemática.
Percebi que a tecnologia pode ser um pincel se você quiser usá-la desta
forma." A internet também virou a maneira principal para vários
artistas manterem uma base de fãs, e para um cara que costumava ser
conhecido por dizer qualquer coisa, Manson tem um Twitter bem domado. "Acho que as pessoas estão tão preocupadas em estar nas notícias e serem relevantes que eles esvaziam o balde de mistério," ele diz. "Eu falo coisas quando as falo porque quero que as pessoas escutem."
Ele percebe que estar confortável com o palco, mas relutante em
twittar significa que a próxima geração de fãs de música estarão menos
familiarizadas com ele. "Não sou o tipo de idiota que pensa que
todos sabem o que estou fazendo o tempo todo. Eles não sabem. Conheço
pessoas e eles nem sabem que eu pinto, ou que lancei uma música," ele diz. "Não espero que as pessoas lembrem o que fiz ontem, muito menos há 10 anos."
Ouça "Deep Six"!
Assinar:
Postagens (Atom)